Um Toque Interior


        O meio mais comum de abrir uma lata de tinta é usando uma chave de fenda, mesmo assim, não é tarefa muito simples. Depois de assistir alguns vídeos explicando como pintar, alguns tutoriais, há vários excelentes, a pessoa resolve ir comprar uma lata de tinta para dar um toque interior num cômodo. Pelo visto, a lata de tinta fez igual criança em viagem, resolveu fazer bagunça no banco de trás. Teria sido boa ideia colocá-la numa cadeirinha, mas como vemos, o carro não conta com uma. O que era para ser um fim de semana criativo, dando um toque no interior da casa, transformou-se numa dor de cabeça. Geralmente, quando  o próprio dono ou dona da casa resolve fazer esses pinturas interiores é aos fins de semana. Ficou parecendo, de longe, que nevou dentro do banco de trás. O azar foi tanto que nem a tinta combinou, tecnicamente  falando, o branco não é uma cor, mas isso já é outra história. Não há uma solução muitos simples ou se troca o estofamento, ou se tenta pintar com um tom parecido com o do banco, mesmo assim, quando se pinta sobre um fundo branco há um tremenda diferença, talvez, se usasse o resto da lada para pintar todo o estofamento de branco, então, depois pintar sobre todo o fundo branco. O problema é que a tinta não é própria para estofamentos, mas sim interiores. Sem contar que tem a parte metálica que também foi atingida. Será que ainda daria tempo de remover a tinta. Imaginar-se chegando na loja de tinta, perguntando ao vendedor se pode chegar num tom parecido com o banco, seria no mínimo estranho. Do ponto de vista da lata de tinta, ela está certa, pode-se ler no rótulo que a tinta é destinada a interiores. Em última análise, a lata de tinta cumpriu sua missão, só o controle de qualidade ou a máquina que coloca as tampas não. Uma solução criativa seria algum artista aproveitar o formato e pintar uma cabeça igual aquelas da ilha de Páscoa, os Moais, as cabeças da Ilha de Páscoa são tão misteriosas e enigmáticas como o modo que essa tinta se derramou no banco de trás. Se o carro fosse meu, eu faria isso. Visualizando o Moai, na mancha de tinta branca, ainda daria para imaginar um vaso, então um Moai de perfil com um vaso na cabeça, bem surrealista. Um Moai com um elmo grego ficaria bom também. Seria um estofado personalizado. Talvez o dono ou dona do carro pense numa viagem para Ilha de Páscoa. Desde que eu me lembro, visualizar figuras em irregularidades de reboco, nuvens,  sempre foi um exercício interessante.
Nem sempre todos veem  a figura, talvez, seja como o artista vê o mundo, não sei, mas, no caso do Moai do estofamento,  sua silhueta em perfil está bem visível.

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