O Vestido Jornal, Não De Papel Jornal



       Num passado não muito distante, e ainda hoje,  os jornais de grande circulação eram expostos no expositor de metal ou na lateral das bancas de jornal, obviamente, para instigar a compra, principalmente no dia seguinte a repercussão de alguma notícia bombástica, plano econômico, catástrofes. Existiu, em São Paulo, um tabloide (tabloide é até um elogio), chamado: Notícias Populares, também chamado de NP, costumava-se dizer que bastava torcer o jornal que pingava sangue. O Nascimento do Bebê-Diabo, em São Bernardo do Campo, virou uma lenda urbana. Segundo consta, o bebê tinha nascido com duas protuberâncias na testa e um  prolongamento no cóccix, essas deformidades foram corrigidas no próprio hospital, porém, graças ao jornalista que foi mandado ao local para cobrir o acontecimento e que transformou o fato numa crônica de terror, acrescentando palavras e expressões como: “mistério; correria; pânico; características do Diabo; “O bebê já nasceu falando, ameaçou a mãe dele de morte, com o corpo coberto de pelos, dois chifres na cabeça e um rabo de 5 cm”. Sem explicar para a população que era uma crônica de horror baseada num acontecimento, o Jornal chegou às bancas, causando polvorosa, curiosidade ávida e até medo em algumas pessoas, óbvio, muita alegria para os jornaleiros que viam a tiragem de jornal da banca se esgotar rapidamente.  A redação do jornal, claro, percebendo o sucesso do Bebê-Diabo, transformou-o em uma minissérie de aproximadamente um mês. O povo queria saber onde estaria o Bebê- Diabo, se possível, ver uma foto, acompanhar os acontecimentos. Pode-se dizer que o Jornalista, Marco Antônio Montadon, foi o *Orson Welles do ABCD Paulista, trollando milhares de pessoas. Eu não sou psicólogo, mas arrisco dizer que ele tinha uma vontade incrível de ser Edgar Allan Poe ou o Esqueleto de Contos da Cripta, sendo contista ao invés de cronista. Vamos concordar que os títulos principais: “Nasceu o diabo em São Paulo” ; “Médico Afirma: Nasceu o Bebê-Diabo No ABC” são títulos principais sensacionalistas para vender jornais. Se tivessem colocado: “Nasce o Bebê de Rosemary”, as pessoas pensariam: “Mas quem é essa tal de Rosemary?”. Isso foi  há 38 anos atrás, o curioso era que o slogan do jornal era: “Nada mais que a verdade”. O slogan deveria ser: “Nada mais que a verdade, com pitadas de inverdades” Voltando a foto do post em questão, as pessoas podiam ler algumas notícias estampadas na capa do jornal, alguns pessoas mais folgados até tentavam dar uma olhada por dentro, sempre seguidos pela visão do jornaleiro, que pensava: “Se quiser ler de graça, vá na biblioteca”. Se a pessoa pegava uma revista dentro da banda e começava a ler, obviamente, era porque ela ia comprar. Não duvido que alguns até leram uma matéria na revista e saíram de fininho seguidos pelo olhar p... da vida do Jornaleiro. As roupas em geral são para serem vistas, admiradas, modelo, cor, caimento, moda, etc. No  caso do vestido da moça da foto do post, bom, o próprio vestido tem estampado neles: corpo de texto; subtítulos; fotografias, etc. Dizer que ela está vestindo um jornal não seria exagerar nada, mas não se poderia dizer  que ela está se cobrindo com um jornal. Tudo leva  a crer que estão num exposição. Não é que uma pessoa deixou de apreciar as obras expostas para ler as últimas (vai se saber de que ano são) notícias, estampadas no vestido da moça. Estranhamente, ele esta interessado mais nas notícias do rodapé do vestido jornal. A mulher dele, caso ela estivesse na exposição, nem poderia repreendê-lo dizendo: “Por que está olhando o bumbum e perns da moça, não tem vergonha na cara”!. Ao que ele responderia: “Querida, só estou lendo a matéria, a coluna, o artigo do jornal”.  Simplesmente é um álibi perfeito. Se ela perguntar  o porquê alguém está olhando para ela, ouvirá que só estão lendo as notícias do vestido dela. Ficaria difícil tentar impedir alguém de tentar ler um jornal, mesmo se ele for um jornal ambulante, pelo exemplo acima, do homem lendo a página detrás do jornal, vemos que será difícil. Sérgio Reis diria, ou cantaria, que o coração dela não é de papel, mas o vestido é de jornal, não de papel jornal.

* Quando comparo o referido jornalista ao genial Orson Welles, refiro-me a quando Orson Welles fez a locução da “Guerra dos Mundos”, em 1938, causando pânico em milhares de   ouvintes americanos que realmente acreditaram que os Estados Unidos estavam sendo invadidos por extraterrestres. Atualmente, essa é considerada a primeira trollação da era das comunicacações.

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