Playcenter, Excursão, Enterprise. Um Dia Inesquecível.

        Anatomia ou organograma de uma excursão. A configuração da sala de aula, na maioria das vezes, é replicada na excursão. O tal famigerado “fundão”, os quietos ou a turma do gargarejo e o pessoal do meio que, dependendo da situação, pode deixar a neutralidade. Essa parte fronteiriça entre a frente e o fundo é bem nebulosa. Se essa ordem fosse invertida, no ônibus, poderia até causar uma tragédia com o motorista se distraindo pela bagunça. Na sala de aula, o fundão atrapalha muito o andamento da aula. Eu nunca fui da turma do gargarejo nem da turma do fundão. No primeiro dia de aula, que era quando cada um escolhia o seu lugar, eu gostava de sentar na quarta ou quinta carteira, do lado esquerdo da classe perto da janela. Para os destros, que é meu caso, a luz da esquerda para direita é ótima para ler, desenhar. Inclusive, essa iluminação do alto, da esquerda para a direita é universal na pintura. Uma das excursões mais legais das quais eu me lembro, foi ao Playcenter. Ensino médio, 8.ª Série A, vespertino, período da tarde. Não sei como é hoje em dia, mas, nessa época, havia aquelas gincanas de arrecadar produtos, prendas, as quais contavam pontos, e as classes que fizessem mais pontos ganhariam a viagem. Por sermos a única 8.ª no período da tarde, os mais velhos, naquela época todos queriam ser mais velhos, vai ver quem quer ser hoje. Seria muito humilhante não irmos. Era o que a maioria pensava, e focamos em trazer os produtos que valiam mais pontos, claro. Esse empenho e tática resultaram que fomos uma das classes vencedoras. Nessa época, não existiam nem o Hopi Hari, nem o Beto Carrero World. Claro, o Beto Carreiro já era conhecido, desde os Trapalhões, não é exagero dizer que o Beto Carreiro foi o Walt Disney Brasileiro, de uma infância pobre a um dos maiores Parques Temáticos do Mundo, localizado em Santa Catarina. O primeiro Parque Temático do Brasil, segundo consta, foi a Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo, ABC Paulista, com mais de 40 anos de história, fundada em 10 de outubro de 1968, esteve fechada por 5 anos, voltou a plena atividade em Janeiro de 2010, continua firme e forte até hoje. Voltando a história que eu contava, o Playcenter tinha os brinquedos mais sofisticados e radicais, nesse tempo, novidades trazidas dos Estados Unidos. Embora eu já tivesse ido a muitos parques, era o Playcenter, o Titanic dos parques de diversões do Brasil. Os comerciais não deixavam dúvidas, tudo o de mais grandioso estava no Playcenter, para sonhar maior, só a Disneylândia. No tão esperado dia, estavam na rua da escola os ônibus, e as classes vencedoras. Não lembro de ter havido muita bagunça, pelo menos no ônibus que fomos, havia um misto de expectativa e muita felicidade, num dia que prometia muito e, realmente, esse dia cumpriria a promessa. Embora houvesse quintas, sextas e sétimas, nós da 8.ª tínhamos a mesma intenção, pelo menos os moleques, irmos nos mais radicais, altos e cheios de adrenalina brinquedos que víssemos. Claro, fomos com as meninas no trem fantasma, elas pediram, que cavalheiro deixaria uma mulher enfrentar monstros e assombrações sozinha. Tinha uns fios que roçavam na cabeça, logo no começo da viagem no trem fantasma, e no escuro, era para causar terror psicológico mesmo. Na roda gigante, porque era muito alta, e no carrinho de batida, porque era o único meio legal de um menor guiar um veículo movido a eletricidade. Depois elas foram nos românticos para meninas, com certeza devem ter ido no castelo ou montanha da Branca de Neve, que nós, os meninos, nem chegamos perto, claro. Depois disso, lembro que o critério nosso era: tem que ser perigoso, alto, desafiador. Atirar a bola para derrubar ou acertar o alvo, estava fora de cogitação, coisas do gênero, eu podia fazer no parque da cidade. Algumas partes foram meio alucinantes, fila pra entrar nos brinquedos, aquela agitação típica. Lembro que fui na montanha-russa umas 4 vezes, tobogã várias também. Qualquer brinquedo com centrifugação, movimento pendular ou que fizesse o labirinto enlouquecer. Foi quando fiquei frente a frente com um brinquedo chamado Enterprise, há um vídeo no Youtube, mas, para se ter ideia, entrava-se num compartimento ou cadeira fechada, parecia um chapéu mexicano, ou roda gigante deitada, que ia acordando e levantando, começava devagar, então ia se inclinando, até virar um tipo de roda gigante, mas, que você preso nessa cadeira, girava de cabeça para baixo, quando fazia o looping. Gostei tanto que fui umas 5 ou 6 vezes, parecia um teste para astronauta. Lembro que ouvi meu colega gritando na cadeira próxima, o barulho dos ferros rangendo, pessoas gritando. Parecia pânico no parque. Quando o Enterprise parava, e as cadeiras fechadas voltavam à posição normal, eram só pessoas saindo e dizendo que não iam nunca mais. Esse foi um dos dias mais felizes, pude compartilhá-lo com meus amigos e amigas da 8.ª. Série. Se você tiver uma oportunidade dessas, aproveite, esses dias são bem raros de se repetirem, mesmo se conseguíssemos localizar todos os amigos e amigas, pelas redes sociais, o Playcenter não existe mais nem o Enterprise. Só a antiga escola e a sala de aula continuam lá...  O Playcenter encerrou suas atividades em Julho de 2012, disse que reabriria em Julho de 2013, mas, segundo uma nota divulgada pelo Grupo Playcenter, em março de 2013, ainda não há previsão  para a reabertura. Eu consegui encontrar um vídeo no Youtube, mostrando o “brinquedo” Enterprise, pode-se ouvir os gritos pelo áudio, claro, pode-se ver o Enterprise em ação e a reação das pessoas. Quando eu disse radical, não estava brincando:
http://www.youtube.com/watch?v=pziWuiPqK2o

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