Antigamente, registrar aquele momento para a posteridade
ou um momento congelado no tempo não era fácil nem todos tinha
câmera analógica, quem tinha uma, não gostava de emprestá-la e tinha muito
ciúmes dela. Você carregava o filme na máquina,
12, 24, 36 poses, cada foto merecia ser tirada, não havia certeza de
nada, olhava-se pelo visor, com o campo que deveria aparecer na foto, só se
descobria se a foto saiu ou não, quando se ia buscar a revelação das fotos. Não se tinha privacidade alguma, os funcionários dos laboratórios de revelação deviam saber os segredos mais obscenos que se podiam existir. Muitas
fotos, simplesmente, ficavam todas escuras, um
breu, a única vantagem é que, nas fotos onde não se aparecia nada, mas tinha
que ser nada mesmo, não eram cobradas. Por vezes, a pessoa se esquecia de passar
para próxima pose, que em algumas máquinas era feito manualmente, e fazia uma
dupla exposição na mesma pose, tirava uma foto em cima da outra, depois, quando ia buscar os filmes revelados,
essa foto ficava artística e
sobrenatural. Às vezes, tentava-se tirar
uma ou duas fotos a mais, do que o rolo de filme indicava, tinha vezes que dava
certo, claro, essas fotos a mais eram cobradas. Não era só isso, aquela
viagem para algum lugar e as lembranças
inesquecíveis poderiam ser extraviadas no laboratório de revelação, isso já
aconteceu nas fotos de uma viagem que eu fui, assim como já sai, quero dizer, não sai nas fotos, tudo ficou a maior escuridão, e o máximo de indenização era um rolo de filme novo. Isso de tirar três
fotos para garantir, nem pensar, era melhor tirar uma foto em cada lugar e
arriscar. As poses era gastas com muita moderação, quando, realmente, a foto
valia a pena ser tirada. Você pagava o filme com as poses, depois, pagava para
revelar as fotos que havia tirado. Não era barato, por isso, até o mais amador
dos fotógrafos sabia, por intuição e dor no bolso, que era preciso buscar o
“momento decisivo” na fotografia, pelo menos, tentar. Quem cunhou essa expressão e inventou o
fotojornalismo mesclando-o com arte foi, o mundialmente conhecido fotógrafo, Henri
Henri Cartier-Bresson. Com o
surgimento da câmera digital, tudo
mudou, apesar de muitos acreditarem ser um fato recente, em 1975, a Kodak criou
a primeira câmera digital, o protótipo, depois de 23 segundos de exposição, gerava uma foto digital de 0,01 megapixel, em preto e branco. Ao invés de investir nessa verdadeira revolução, a Kodak, numa
visão conservadora e fatal, não investiu, não acreditou na própria criação inovadora que a
faria, sem dúvida, muito mais famosa e rica do que ela foi. Com medo que essa
invenção revolucionária atrapalhasse os produtos conservadores e rentáveis, como a venda de
filmes (película para o cinema também), revelação, e o faturamento com os
produtos químicos que ela vendia, eles perderam o bonde revolucionário da
história, o pior, eles mesmos tinha construído esse bonde. Nesse temor de perder o dinheiro da venda de filmes, revelação e os produtos químicos usados no processo, a Kodak, num dos mais terríveis erros nos negócios, e falta de visão, deixou de lançar e lucrar com algo revolucionário, que ela mesma tinha inventado: a câmera digital. O final trágico
dessa história foi o parricídio tecnológico da Kodak, a própria criação da Kodak, a
filha câmera digital, matou a própria mãe Kodak. Quando a Kodak percebeu, o
mercado de câmeras digitais já tinha feito a revolução e decretado a morte do
filme, hoje, celulares, smartphones, dispositivos móveis de última geração já
trazem uma câmera digital. A palavra morte é muito forte para ser usada, basta ver o Disco de Vinil, em algum lugar, ainda é possível comprar e revelar filmes à moda antiga, tudo pode até morrer, mas o saudosismo e dedicação evitam que sejam enterrados. Os executivos da Xerox cometeram erro
semelhante e conservador, ao tratarem com o maior desprezo o protótipo do
mouse, apresentado a eles pelos engenheiros da Xerox. Steve Jobs convenceu o pessoal da Xerox a mostrar em que estava
trabalhando: mouse, tela gráfica, interface gráfica, ele copiou tudo, depois, o
Bill Gates, que tinha feito uma parceira com a Apple, lançou o Windows, quando
Steve Jobs viu o Windows, acusou Bill Gates de piratear o software do protótipo do Mac, Bill Gates
disse que, assim como Steve Jobs ele também, tentara “roubar” as invenções da
Xerox antes, e que Steve Jobs chegara atrasado. É preciso uma nova máxima:
Pirata que pirateia pirata...
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