Entrar na cozinha, ou outro cômodo que a geladeira esteja, parar em frente à geladeira, abri-la, pegar o que se quer comer,
fechar a geladeira. Parece não ser nada extraordinário, afinal, isso é feito
todo dia. Algumas vezes, essa sequência não é completada. É como se, ao entrar na cozinha, a porta da geladeira devesse ser aberta, e o interior dela olhado,
mesmo sem pegar nada para comer. Estranhamente, horas depois, a geladeira é
aberta novamente, pela mesma pessoa, talvez, na esperança de que, magicamente, algo diferente e
saboroso apareça lá, mesmo sabendo que nem a pessoa, nem ninguém, saiu para comprar nada. É
quando se pensa: “Não tem nada aqui!” Não tem aquele nada, aquilo diferente que
se queria comer, que a pessoa nem sabe o que é. É possível que seja algo inconsciente, abrirá a porta automático, mesmo sem fome, mesmo sem esperar encontrar aquela surpresa saborosa, a pessoa a abre, poderia ser mesmo uma peça publicitária que vem sendo veiculada: Por que você abre a geladeira, dá um olha lá dentro, fecha a porta, sem pegar nada?. Porque sim!. De repente, vem aquela crise existencial que, na verdade, é mais um
questionamento de o porquê estar fisicamente lá,
em frente a geladeira, contemplando o interior. Às vezes, nem os incontáveis ímãs de geladeira são capazes de chamar a atenção ou desviar a pessoa de abrir a porta da geladeira sem propósito nenhum. É um pouco diferente de "assaltar" a geladeira
pela madrugada, quando se sente aquela fome, por saber que há algo saboroso
para comer ou a motivação de vasculhar tudo lá dentro até encontrar algo. Não é
só uma visita de reconhecimento, até o que pode estar no fundo é procurado, tira-se da frente, o
que estiver atrapalhando. Encontrar
resto de sorvete no pote,
principalmente, se não se mora sozinho, realmente, é uma façanha. Há
também aquele alimento esquecido, com o prazo de validade vencido só por alguns
dias, ou vários, e a pessoa pensa se o prazo de validade é
igual aquelas mensagens, do seriado Missão Impossível, que se
autodestruíam depois de lidas, no caso, com o alimento se deteriorando,
espontaneamente, só por três dias, ou mais, passado do prazo. Destapar, depois de dias,
aquela vasilha opaca com brócolis dentro, não temperado, é uma experiência muito
desagradável. Pegar essa mesma vasilha de brócolis e escrever DOCE, é muita sacanagem, vasilhas opacas (que não são transparentes) sempre são um mistério. A geladeira também pode ser
motivo de uma guerra fria, não como aquela entre Estados Unidos e a antiga Ex-União Soviética. Nas repúblicas estudantis, por exemplo, comer
o que pertence a outra pessoa, pode gerar discussões. Não é uma questão de
egoísmo ou mesquinharia, mas sempre existe um folgado que quer tirar vantagem. É
muito compreensível alguém se esquecer de, numa hora ou outra, comprar algo, até não ter o
dinheiro para comprar aquilo em algum dia. O problema é que o folgado usa a lei de Gérson (levar vantagem em tudo) e faz isso recorrentemente. A pessoa acorda todo dia, pensando como ela pode tornar o dia
dela melhor, mesmo que, para isso, muitos sejam prejudicados. Claro, a mesma
pessoa tentará colocar o nome dele no trabalho em grupo, mesmo sem ter
contribuído com nada.
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