Houve
um tempo que as pessoas se reuniam para conversar, contar histórias, contar
vantagem (alguns mentiam descaradamente), enfim, os temas eram livres ou específicos, como organizar algum
acampamento ou festa, repercutir algum acontecimento mundial ou nacional. As gerações
mais novas não tem como comparar ou sentir saudades, pois é tão natural alguém
usar um celular, hoje em dia, quando está entre amigos. Por isso, para os que
nasceram D/I (depois da internet), essa foto do post não é tão estranha, mas a
mudança é muito clara para os que nasceram A/I (antes da internet). Estes devem
estar se lembrando de quando os grupos de amigos e amigas se reuniam,
fisicamente, conversavam, interagiam, participavam. Claro, estou considerando a
internet de uso civil ou quando ela passou a ser disponível para a população,
não a militar e fruto da guerra fria, ARPANet, a tataravó da internet. Não tem
como negar a mudança do mundo pré e pós-internet. Antes da internet, o mundo era lento (mas não tinha-se essa noção de lentidão, só se tem comparando com hoje) e cheio de atravessadores do
conhecimento, egoístas. Eles mantinham as informações guardadas e só compartilhavam com
poucos. Conhecimento sempre foi poder, conhecimento profissional, ainda mais. Alguém
tinha um problema, não tinha para quem perguntar, começava uma verdadeira odisseia
em busca de informação, que poucos queriam compartilhar, nada era ao alcance de
um clique, não havia cliques nem buscadores. Desde a popularização da internet,
quantos tutorias disponíveis, de graça, ajudam as pessoas, fóruns, etc. Quantos problemas de computador, e outros
infinitos problemas, já foram resolvidos, pesquisando vídeos no YouTube ou
tutorias específicos em sites, fóruns, sobre os mais variados temas. Você não tem que começar
do zero, ou pela tentativa e erro, pode conseguir a informação de um tutorial
para concretizar muitos projetos. Sabendo procurar, sempre tem alguém que
entende de um assunto, demonstra como se faz, pode-se comparar com outros
tutoriais, indo do básico até o avançado. Antes, as pessoas ficavam isoladas no
pedestal do conhecimento, qualquer um que tentasse colocar uma escada, para aprender,
era derrubado de lá por essas pessoas. Hoje, elas estão alienadas, isoladas e agarradas
nesses pedestais carcomidos, fingindo que o mundo ainda é como antes, enquanto uma rede de
esclarecimento colaborativo foi tecida em volta delas. Elas perderam a
importância, afogaram-se na arrogância que era o poder que tinham de manter os
outros ignorantes, omitindo, escondendo informação e conhecimento. A
competência não era o primeiro quesito a ser julgado (salvo algumas exceções), se não tivesse um
padrinho, um contato, o famoso QI, quem indicava, a pessoa era empurrada num
ostracismo perverso só pela maldade de alguns. Eram capazes de puxar até o tapete voador do Aladim. Existiam muitas coisas fantásticas também, no mundo pré-internet, em posts anteriores, comento sobre elas. Muitas pessoas talentosas
perderam as oportunidades por não ter quem as indicassem ou não ter estômago
para ser um puxa-saco. Graças à internet, atualmente, se alguém tiver uma ótima
ideia, pode apresentá-la para o mundo todo, pode agregar pessoas que
compartilhem da mesma ideia e ajudem a pô-la em prática. O melhor, alguém pode investir nessa ideia ou talento. Existe até sites de vaquinha virtual para alguém que tenho uma ideia, mas por não ter com investir, às vezes, a quantia é até pouca, não conseguem começar um empreendedorismo, o start. Quem tiver uma ideia criativa não ficará mais
dependendo da vontade de alguém que pensava que tinha o monopólio de carimbar:
sucesso ou fracasso na testa de uma pessoa. Desde de que a internet se tornou
popular, as pessoas compartilham o conhecimento pela rede, claro, não só
conhecimento, infelizmente, coisas ruins também. A internet reflete o que há de bom e
de podre na nossa espécie, como o racismo e outros crimes. O lado benéfico é impressionante, o mundo mudou muito, todo acontecimento transformador é um divisor de
águas, cria dois marcos, um antes, outro depois. Essa classificação, não sei se
já existe, mas poderia existir, contemporânea, dos nascidos antes e depois da
internet. Como eu sou da geração A/I, lembro de sair da escola, às sextas-feiras,
conversar com os amigos na frente de casa, era uma interação muito legal, saudável e de amizade. As
pessoas continuam socializando, a diferença é que não conseguem mais largar dos
celulares e outros dispositivos móveis de última geração. O celular parece um
décimo primeiro dedo, surgido de uma mutação e não pode ser separado mais da mão ou tem que sempre estar ao alcance dela. Alguém dirá que essa foto do post não é
socialização, que estão todos imersos no microcosmo individual virtual e fazem
pequenas participações no mundo “real”, com monossílabos, só estão no mesmo
espaço físico, que é o que está sendo compartilhado. Essa cena acontece no
convívio familiar também, cada um no seu dispositivo. Aconteceria em todos os
lugares, se não houvesse normas ou uma noção ou educação residual que impede,
ou tenta, o uso de celulares em determinados lugares ou ocasiões. Qual chefe
chato poderia competir com um meme da internet. Ainda tem aquela famosa
história da mãe que chamou os filhos para jantar, chamou-os por mensagem de
texto, eles estavam em casa, a poucos metros dela. Quando as pessoas estão
sozinhas, fazem socialização virtual com pessoas “reais”, claro, por trás de
todo monitor, há um ser humano de carne e osso, se não houver, é atividade
paranormal virtual, essas pessoas reais podem ser também um alter ego virtual
(um outro eu virtual). Quando estão em grupos, socializam no mundo “real”, mas
sem perder o link com o mundo virtual. Será que isso poderia ser chamado de
socialização mista?. “Reartual”, real com virtual, simbiose. É muito comum as
socializações serem postadas nas redes sociais. O que antes era um álbum de
fotos de recordação, hoje, é a linha do tempo. Nada mais será como antes, os
mundos “real” e o virtual estão entrelaçados. Dependência tecnológica, não
conseguir viver sem celular ou sem acessar a rede, medo de ficar desconectado. Por mais estranho que
pareça, nessa cena de socialização da foto do post, alguém que não estivesse ao celular,
pareceria estar deslocado aí. Por um tempo, estão todos fisicamente ali, mas cada
um na sua individualidade virtual, no mundo virtual, nenhum acha estranho isso. Para ficar mais estranho, só faltava um estar trocando mensagem com o outro, que está
ali próximo, para não atrapalhar a socialização virtual dos demais. O medo, ou
fobia, de estar sem celular ou num lugar sem acesso à internet está veladamente,
ocultamente, disseminado entre as pessoas, muitas tem mais de um celular. Aquela pergunta: “Quem você levaria para uma ilha
deserta?”. Já deve ter uma interferência
da internet e dos celulares na resposta.
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