Segundo
consta, esse ornamento arquitetônico está na lateral de um hospital. A luta da
medicina contra a morte, o médico lutando para salvar ou curar um paciente. O
símbolo da morte, o esqueleto, a ceifadora segurando uma gadanha ou foice, a
diferença entre uma e outra é que a gadanha é mais comprida, a foice mais
curta, inclusive, alguns chamam a gadanha de foice com uma haste maior. A
título de popularidade, a foice foi mais difundida, a morte com uma gadanha na
mão soa estranho, mas, nesse ornamento, a morte segura uma gadanha. Não creio
que alguém frente a frente com a morte se preocuparia com termos técnicos de
instrumentos do campo. Se para efeito de
quem a morte vem buscar, gadanha ou foice não fazem a menor diferença, não se pode
dizer o mesmo do símbolo da medicina. Há um grande equívoco nesse ornamento
arquitetônico da foto do post, no qual o homem, que representa o médico, segura o símbolo da medicina, o que ele está
segurando, na verdade, é o Caduceu de Hermes (deus do comércio e dos viajantes)
é símbolo usado também nos emblemas de
escritórios de contabilidade, escolas de comércio. A pergunta óbvia é: Como o
caduceu de Hermes foi parar na mão dos médicos ou como símbolo do comércio é confundido com o de medicina?. A confusão inicia-se com o
contato cultural e intelectual entre a civilização grega e egípcia, o deus Thoth
egípcio, deus da palavra e conhecido, ao qual se imputa também a autoria da invençao da escrita, foi assimilado por Hermes. Dessa fusão de deuses, surgiu Hermes egípcio ou Hermes Trismegistos (três
vezes grande), provavelmente, o primeiro título de tri da história. Na Idade
Média, em referência a Hermes Trismegistos surge a literatura esotérica
hermética, esse conhecimento hermético, fechado, tratava de ciências ocultas,
alquimia e astrologia. Isso ainda reverberaria na contemporaneidade , com a
Sociedade Alternativa, do Raul Seixas, o Raulzito. Dessa confusão, fusão ou
sincretismo entre o Hermes da mitologia grega e o Hermes Trimegistos, o caduceu
foi associado a este, o Hermes Trimegistos, em seguida, sendo adotado como
símbolo da alquimia, segundo a interpretação de Schouten, o símbolo do caduceu
migrou da alquimia para a farmácia, posteriormente, da farmácia para a
medicina. Em 1538, o famoso editor suíço, Johanes Froben, adota o caduceu de
Hermes como símbolo de sua editora, o qual aparece na página de rosto de obras
clássicas de medicina: Hipócrates, entre outras. Ao que parece a intenção do editor ao adotar o logotipo do caduceu de Hermes (Mercúrio) era associá-lo a rapidez com a qual o conhecimento era difundido pelas editoras e tipografias, graças ao alemão Johannes Gutenberg, o qual criou o processo de impressão com tipos móveis, a tipografia. O equívoco do caduceu de Hermes foi perpetuado por
editoras inglesas e norte-americanas, porém, o fator que mais contribuiu para
propagação do equívoco, foi a adoção do caduceu de Hermes como insígnia do
departamento médico do exército dos Estados Unidos. Qual é o verdadeiro símbolo
da medicina?. O que o homem, que representa o médico, deveria estar segurando?.
A resposta está na ilustração do post, que, além de mostrar o verdadeiro símbolo
da medicina, mostra a diferença entre um e outro, a diferença entre o caduceu e o bastão é muito evidente. O bastão de Asclépio (Esculápio
para os romanos) é rústico, simples, há apenas uma serpente enrolada no bastão.
O caduceu de Hermes (Mercúrio para os romanos) é mais elaborado, trabalhado. No
caduceu de Hermes há duas serpentes em espirais ascendentes, no topo do símbolo,
há duas asas. A maioria dos hospitais civis dos estados norte-americanos usa a
iconografia mitológica correta, o bastão de Asclépio, assim como a Organização
Mundial de Saúde e a Associação Médica Mundial, esta usa o símbolo estilizado,
aliás, estilizar o símbolo não incorre num erro, desde que os símbolos não
sejam trocados, um pelo outro. Associações, Escolas e Faculdades de Medicina
Brasileira, usam, corretamente estilizados, o símbolo do bastão de Asclépio,
trocando o bastão por uma espada, árvore
ou tocha, há até um caso, muito criativo, no qual a serpente foi substituída por um nó cirúrgico (Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto). Infelizmente, devido a um desconhecimento de
iconografia mitológica, há sites e materiais de divulgação de faculdades,
laboratórios e planos de saúde usando o símbolo errado, assim como materiais de
estudo e softwares nacionais e importados, de excelente qualidade, mas com o
símbolo do comércio. Com o conhecimento que existe hoje e a facilidade de pesquisa,
esse equívoco iconográfico mitológico pode e deve ser corrigido. Algumas
pessoas protestam que a medicina, em alguns casos (banalização da cirurgia
plástica), virou comércio ou que quem pode mais (pagar), chora menos ou morre
menos. A saúde pública brasileira ainda carece, e muito, de investimentos. Sim,
corrigir esse equívoco dos símbolos é muito importante, mas o paciente que
chega procurando socorro, atendimento
médico ou marcar consultas e exames não está muito preocupado em saber a
diferença entre o bastão de Asclépio e o caduceu de Hermes, ele quer somente um atendimento digno e justo. Para finalizar o
post, o ornamento arquitetônico, que eu achei muito interessante, poderia ser
corrigido, bastando retirar uma das cobras e as duas asas.
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