Hermes e Renato - Mtv Foto: Divulgação |
Lamentável a morte do humorista Fausto Fanti, de terno escuro
e camisa vinho, nessa foto de divulgação, da dupla dinâmica e polêmica: Hermes
e Renato. O humorista foi encontrado morto, com um cinto envolto no pescoço, a suspeita da polícia é que Fausto Fanti tenha cometido suicídio. Eu vi o nascimento da Mtv e a “morte” da Mtv. Era um tempo que a internet não existia como a conhecemos hoje, desenhos animados
politicamente incorretos como South Park, Beavis and Butt-Head passavam na Mtv.
Embora Caetano Veloso tenha tentado aportuguesar, dizendo Eme Tevê, naquele famoso chilique ou piti, a Mtv
continuou americanizada no nome, mas com o tempero brasileiro. Em meio a essa programação meio alternativa, numa
linguagem jovem, versátil, popular, eu vi o primeiro esquete do Hermes e
Renato, lembro bem, era o episódio: Jogo de Baralho, os dois estavam
trapaceando no jogo e perderem literalmente as calças, na fuga, arrancam as
calças deles, os dois continuam correndo só de cuecas. Renato não só tirava ases
da manga, tirava de trás da cabeça, ele tinha vários ases colados do lado de
dentro da camisa. Nessa mesma leva,
assisti ao episódio dos Pedreiros, Hermes e Renato improvisando na construção
civil. Era um humor tosco, mas muito inovador, rebelde, anárquico, tinha uma
pegada visceral, ácida, com toques apelativos que fez o humor
do Cassete & Planeta ficar ultrapassado na hora. Eles vestiam roupa retrô,
camisas de gola de mariposa, lembrava muito um clipe, que fez muito sucesso na
época, “Sabotage” – da banda Beastie Boys. Era verdade que, por vezes, parecia
um humor maldito, proibido, o tipo de humor que não se faz em frente à família,
num almoço de domingo, mas junto com os amigos, em frente de casa ou na rua. Um
tipo de humor de vanguarda, inconsequente. A forma de se expressar, a linguagem do dia a dia, a linguagem hermética de amigos, o humor negro, esculachado, quando se bate o dedo do pé numa quina, a blasfêmia nos diálogos, linguagem nua
e crua, sem firulas, o questionamento do conservadorismo, a opção não
reacionário da grade de programação daquela época, a revolução em palavrão. As sátiras aos ícones dos anos 80, do Palhaço
Bozo, por exemplo, e do jornalismo investigativo (irônico) com o: Documento Trololó. Foi
uma época nostálgica, quando fugíamos da mesmice dos canais abertos, a MTv era um porto "inseguro", instável, era
assim que gostávamos, inesperado, no sentido de dinamismo, novidades, tendências, aquela
fuga do tédio massificado da programação. Algo de diferente podia ser visto lá.
Passou até um reality show com a família do Ozzy Osbourne. Como cada um tem seu
limite, um programa que eu não gostava era o Jackass. Eles viviam inventando
jeitos de se estropiarem, literalmente, mas gosto não se discute. Voltando ao
Hermes e Renato, no episódio: Bingo da Amizade, num mundo sem internet, sem
grana e sem opções de lazer, Hermes e Renato estão tentando se divertir, quem
sabe, se a sorte ajudar, ganhar um dinheiro no Bingo, quando se esta ferrado, a sorte passa longe da pessoa, e eles não ganham
nada, e o cara chato não para de ganhar e se exibir. Contrariando o próprio
título do bingo, da amizade, tudo termina em pancadaria ao melhor estilo
pastelão. Será que, na época, no início, eles foram uma versão Trash dos Trapalhões?. Não se pode esquecer-se dos outros integrantes e ex-integrantes: Joselito, quem já não conheceu alguém sem noção. O
irritante, chato, pegajoso e engraçado: Boça. O vocalista da Banda
Massacration: Detonador. O confuso e paradoxal: Gil Brother. Uma grande perda
para o humor. Depois de sair e voltar da Mtv, com uma passagem pela rede Record, novidades estavam previstas para 2015, no FX Brasil, o momento agora é de reflexão. Que Fausto Fanti, o Renato, descanse em paz, pois ele fez uma geração inteira descansar rindo. Os vídeos estão no Youtube. Eles vieram, ousaram e marcaram época: Hermes e Renato.
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