Momento Jackie Chan: Salto Alto Agulha. A Maré Não Está Para Salto Alto.

        Esse é o famoso: momento Jackie Chan, que é aquela indignação quando algo foge aos padrões, desafia a lógica, as convenções sociais, o bom-senso e, com certeza, a moda. Essas fotos, em geral, não são gratuitas, ou seja, não é algum deslize. Essa ruptura de expectativa, esse surrealismo chama a atenção. Claro, fotos sem noção, espontâneas têm aos milhões na internet, há, inclusive, um site especializado em fotos de família sem noção. Não se pode saber o contexto da foto, o que se sabe é que a praia, lagoa, piscina repelem o salto alto, seja ele de qual modelo for. Esse elemento desconcertante na composição da foto, por ser rigorosamente proibido, no quesito trajes de banho, o salto agulha na praia nos faz  entender o momento Jackie Chan.  Aparecer de camiseta polo, calça jeans  e tênis na praia seria o gatilho para outro momento Jackie Chan, assim como, aparecer de terno, gravata e sapato. Essa foto poderia ser usada numa campanha de turismo regional de um município, do interior de São Paulo, que tem o título de Estância Turística: Salto. Poderia ser algo como: Venha visitar Salto, mas não venha de salto. Para as mulheres, andar e conhecer os pontos turísticos, cachoeiras, o salto alto não é o mais apropriado. Poderia também fazer um salto de paraquedas usando salto alto, salto ornamental  agulha carpado, na piscina. Falando em municípios, por todo o Brasil, existem aqueles com nomes curiosos. Depois de um feriado prolongado, então, vinha aquele conhecido perguntar: “Você viajou no feriadão?”.  A pessoa respondia: “Sim, fui para Lençóis”.  “Ah, legal!. Lençóis Paulistas”, né. “Não, não, fiquei na cama dormindo... nos lençóis...” Se fosse na capital de São Paulo, seriam Lençóis Paulistanos. Essa sutileza que um dia expliquei para uma amiga gaúcha, perguntado se eu era paulista,  eu disse que era paulistano, ou seja , nascido na capital de São Paulo, paulistas são nascidos no estado.  Não que um paulista ou paulistano se ofenderá com essa troca de “adjetivos pátrios, gentílicos”, mas informação nunca é demais. Como no Rio de Janeiro há os cariocas e fluminenses, adjetivos pátrios, gentílicos formais, há também os descontraídos, informais como: carioca da gema e papa-goiaba. Assim como o gentílico de Santa Catarina, os barrigas-verdes. O gentílico de nativos de Florianópolis, e municípios vizinhos à capital catarinense, Manezinhos da Ilha. O maior herói brasileiro das quadras de tênis, Gustavo Kuerten, declarou com orgulho, depois de vencer Roland Garros, ser Manezinho da Ilha, tornando o adjetivo gentílico, Manezinho da Ilha, famoso em todo o Brasil. O gentílico para os moradores do interior de São Paulo, caipiras, consagrados e imortalizados na literatura e na música sertaneja. Mesmo num passado remoto, se um dupla surgisse na cidade, na capital, não faria sucesso se apresentando como "dupla citadina". Nem todo dupla sertaneja surgiu no sertão, nem foi caipira legítima. Da mesma forma, as pamonhas mais famosas de São Paulo, são as de Piracicaba, embora, milhares de pamonhas, genuinamente de Piracicaba,  sejam fabricadas e distribuídas por todo o estado de São Paulo e Brasil, na verdade, desde a década de 60, essa fama atinge o Brasil inteiro ate outros países, acho que muitas estão pegando carona, pois muitos carros de pamonha anunciam a pamonha como sendo de Piracicaba, acho que isso dá uma turbinada nas vendas e agrega valor. "Pamonhas, pamonhas de Piracicaba é o puro creme do milho, venha provar minha senhora...".   As explicações para os adjetivos gentílicos são as mais variadas, sempre surgirá algum historiador para contestar a veracidade delas ou a origem. Muitas vezes, ninguém sabe quem foi o “contador zero” da história, quem cunhou o adjetivo gentílico, isso fica perdido nos meandros do tempo. Regionalismos, fatos históricos, guerras, colonização, hábitos  e costumes. Há os adjetivos pátrios gentílicos oficiais, os não oficiais, os carinhosos, os engraçados, os pejorativos, os informais. Se as próprias pessoas têm nome de batismo, mas,  ganham apelidos, os adjetivos pátrios gentílicos oficiais também teriam essas variantes. É muito comum as pessoas chamarem, carinhosamente, a cidade de São Paulo, de Sampa, e Florianópolis, de Floripa, e por aí vai, principalmente, pessoas de outros estados. Já a cidade que não para, não dorme, tem mais a ver com pressa, agitação. Seja como for, sem morar ou conhecer uma região, podemos cair nas armadilhas dos esteriótipos. O interessante é que quando se morava noutro lugar, por exemplo,  no ABCD (Santo Andre; São Bernardo do Campo; São Caetano do Sul; Diadema) paulista, ou mesmo num município perto da capital, se dizia, quando se ia ao centro de São Paulo: "Vou na cidade" (Vou à cidade); "Fui na cidade" (Fui à cidade). Há também o conceito de centro velho de São Paulo, centro histórico. Quando morei em São Bernardo do Campo, cidade que gosto muito, certa vez íamos numa  palestra, eu e meus irmãos, quando um casal, que estava esperando o mesmo ônibus que nos levaria até lá, começou a conversar sobre a palestra. Quando o cara perguntou se éramos “batateiros”, quando disse que não era, seja lá o que isso significasse, ele explicou: antigamente, bem antigamente, havia regiões em São Bernardo do Campo, onde se plantava  batata. Embora nunca tenha plantado, colhido ou batatas,  mesmo sendo nascido na capital de São Paulo, paulistano,posso me considerar batateiro de coração. Em cada cidade que moramos, tornamo-nos parte dela, e ela parte nossa. Ainda com relação ao salto agulha na praia, talvez, na virada de ano, Reveillon, na Praia do Leblon, vejamos algumas mulheres segurando os saltos altos agulhas, na mão, enquanto saltam, sem saltos altos, as sete ondas, fazendo um pedido a cada uma das ondas, vestindo calcinha branca, claro, para dar mais sorte, aliás, fazer pedidos, enquanto se pula cada onda, é mais vantajoso do que se fazer pedido à estrela cadente, que é um pedido só, na verdade, faz-se pedido a um meteorito que "queima", devido ao atrito, quando entra na atmosfera do nosso planeta.

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