Num mundo onde os bebês já nascem com um tablet ou
dispositivo móvel de última geração na mão, a tendência é que a caligrafia seja
aprendida para, depois, ser "esquecida". Antes da tecnologia disseminada, era
normal primeiro aprender a desenhar, rabiscado no papel, pintar com canetas
coloridas e lápis de cor, posteriormente, ser alfabetizado no ensino
fundamental e ter a própria caligrafia. Alguns mantêm, praticamente, a mesma
caligrafia, com pequenas variações de tamanho, é normal ter a letra grande,
durante a alfabetização, porém, durante os anos, a letra vai diminuindo de
tamanho, alguns têm a letra inclinada para esquerda ou direita. Quando eu
estava no primário, uma menina tinha um costume que irritava muito a professora,
ela escrevia usando uma régua para manter a caligrafia nivelada, mesmo tendo as
linhas horizontais do caderno como guias. Não era uma caligrafia à mão livre,
claro, que essa mania era prejudicial, e a caligrafia parecia que tinha sido
feita com um frio pregado na parede. Quando alguém faltava a uma aula, devia
torcer para o colega que morava mais perto ter uma caligrafia razoável, para
poder copiar a matéria daquele dia. Não era fácil decifrar os garranchos. Já vi
acontecer de a própria pessoa que escreveu, demorar alguns segundos para
entender uma certa palavra. Nas provas, alguns professores alertavam para as
caligrafias ou letras indecifráveis, pontos poderiam ser descontados e questões
anuladas. Não é obrigação dos professores ter uma Pedra de Roseta (uma pedra
que continha inscrições que foram vitais para o moderno entendimento dos
hieróglifos egípcios) para traduzir o que foi escrito nas provas e trabalhos
feitos por alunos. Para evitar o uso do Ctrl/C e Ctrl/V, os trabalhos não podem
ser digitados, mas escritos à mão, assim como provas dissertativas. Antes do computador, alguns professores aceitavam
trabalhos datilografados na máquina de escrever. É claro que os cadernos serão
substituídos pelos tablets, já existem alguns projetos pilotos em escolas públicas, o que deve
deixar a caligrafia mais esquecida ainda. Deve haver muitas pessoas que não se
lembram muito bem da própria caligrafia. O ponto positivo dos tablets será que o peso das
mochilas será reduzido, com os tradicionais livros didáticos, impressos em
papel, transformados em conteúdo didático digital. A lousa digital também será
bem-vinda. A minha professora que era alérgica ao pó de giz não poderá usufruir
dessa novidade. Quem disse que não se pode ter uma caligrafia digital ou
garrancho digital, virtual, basta ter uma caneta digitalizadora, tablete
gráfico. Alguns anos atrás, eu tinha visto um programa no qual se podia
escanear cada letra maiúscula e minúscula feita à mão, depois, era gerado um
tipo de fonte personalizada com a caligrafia da pessoa. Para muitos, não
adianta emular (imitar, simular), a caligrafia e desenho devem ser feitos sobre
o papel, é meio radical, mas alguns pensam assim. A admiração do falecido Steve
Jobs pela caligrafia foi curiosa, ele abandonou a faculdade que cursava e
começou a frequentar aulas de caligrafia, que eram disponibilizadas pela
universidade. Influenciado pelos cartazes e etiquetas coladas por todo o campus
e feitos com uma bela caligrafia. O que parecia um conhecimento que jamais
seria aplicado, tornou-se decisivo na criação das belas e estilosas fontes do computador
Macintosh. Múltiplas fontes, a variação proporcional de espaço entre os
diferentes tipos de letras, fontes serifadas (aquelas que possuem pequenos
traços e prolongamentos nas extremidades) e sem serifa. Todo o conhecido das
aulas aplicados nas fontes. As aulas de caligrafia de Steve Jobs acabaram
influenciado a extraordinária tipografia dos computadores da atualidade. Não
significa que se você largar a faculdade e ir fazer aulas de origami você se
tornará um visionário ou um guru do Vale do Silício, bom, quem sabe se
conseguir aplicar esse conhecimento em algo revolucionário para a tecnologia. Não
restam dúvidas que Steve Jobs foi um gênio, inovou, revolucionou, etc., mas ele
copiou a interface gráfica da Xerox, ex-funcionários revelaram que ele tinha atitudes questionáveis, a franqueza e as duras críticas dele deixavam os funcionários devastados, arrasados. Já Bill Gates copiou a interface gráfica
da Apple para o Windows. Eu sou fã da tecnologia, softwares gráficos e
vetoriais, mas sem nunca abandonar o tradicional, desenhar e escrever numa folha de papel sempre terá um poder
ancestral, uma sensação primordial humana. Documentos, cartas antigas, livros
de registros, é impressionante como havia um capricho extraordinário com a
caligrafia, sem contar as gravações em anéis, alianças, placas comemorativas e
para homenagem.
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